Estudante de Atibaia vence etapa estadual de concurso internacional de cartas
Você sabe escrever uma carta? Ainda se comunica por carta com alguém? A prática que era muito comum antigamente, caiu em desuso desde. Mas, uma estudante da Escola Técnica Estadual (Etec) Prof. Carmine Biagio Tundisi, de Atibaia se destacou em uma competição internacional justamente escrevendo uma belíssima carta.
Julia Puga da Silva é aluna do primeiro ano do Ensino Médio com habilitação técnica profissional em Administração. Ela venceu a etapa estadual do 50º Concurso Internacional de Redação de Cartas (Circ 2021).
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O tema deste ano do concurso não poderia ser mais atual: COVID-19. A proposta era que os participantes escrevessem uma carta, contando sobre sua experiência com a COVID-19.
Promovido pela União Postal Universal, sediada em Berna, na Suíça, e pelos Correios no Brasil, o desafio envolve crianças e adolescentes com idade máxima de 15 anos.
Julia concorreu com mais de 200 estudantes de ETECs e outras centenas de alunos matriculados em escolas públicas e privadas de diversas cidades do interior do Estado de São Paulo.
A AUTORA DA CARTA
A estudante de Atibaia que escreveu carta vencedora do concurso é fã de livros policiais e de terror, entre outros gêneros
A menina que sempre gostou de ler e de escrever tem como autores favoritos dela estão Agatha Christie, Arthur Conan Doyle, Pedro Bandeira e Stephen King.
“Fiquei muito surpresa com o resultado. Minha reação foi chorar, me emocionei muito.” Além de certificado, Julia vai receber prêmio
em dinheiro no valor de R$ 2,3 mil. Para a ETEC, o prêmio é de R$ 2,5 mil.
A CARTA
Minha querida Alice,
Ontem pela manhã fui ver minha caixa de correios e tive a imensa surpresa de ver que havia uma carta com o seu nome, seu endereço, sua letrinha. Eu nunca imaginaria que poderia ouvir você falando comigo de novo, mas isso aconteceu. Enquanto lia emocionada a sua carta sentada em frente a lareira, conseguia imaginar claramente tua imagem meiga de criança, em sua mesinha de desenho predileta, com seus olhinhos brilhantes cheios de alegria, pureza e amor. E após a ler mais de vinte vezes, senti a necessidade de lhe responder com uma carta também. Você amava as cartas, os selos… uma raridade já que você nasceu em pleno século 21.
Mas, vou lhe contar tudo o que aconteceu durante esse período que levou até sua carta chegar a mim.
Já faz mais de um ano desde minha última visita, a última vez que nos vimos pessoalmente, nos abraçamos, rimos e pude fazer a trança da Rapunzel em seus longos cabelos…Afinal, quem poderia imaginar que as nossas vidas, o mundo, mudaria de uma hora para outra. Realmente nunca imaginei que um vírus microscópico faria um estrago tão imenso. Destruiria sonhos, famílias, amizades, casamentos, e até mesmo a economia. O chamaram de Covid-19, mas você sabia disso. Lembro-me que no comecinho
dessa pandemia, durante nossas vídeos chamadas você me perguntava “Vovó, vovó! Por que a senhora não vem mais me ver? É por causa desse vírus? O CORONAVÍRUS? DIGO O COVID-19? Por que ele tem esse nome? Por que ele faz mal a nós?”. Ahhh era
extremamente difícil explicar tudo isso para você, uma criança de 7 anos. Procurava fazer-te entender de uma forma mais lúdica, porém não diminuía a seriedade e o quão prejudicial ele era, diferente de minha filha, sua mãe, que achava que era apenas
conspiração, planos do governo e fake News.
O que todos nós achávamos que duraria apenas ummês ou dois no máximo, chegará em seu pior momento e junto com ele setembro, acompanhado da dor, da tristeza e do luto… Tudo se iniciou após sua mãe achar que as coisas já estavam melhores. Ela
juntamente da sua ignorância te mandou para aquela festinha da sua amiga, mesmo eu dizendo que não era para lhe mandar, pois além das coisas estarem feias, você ainda tinha lupos, sua imunidade era baixa, você era fraca. Mas ela não me ouviu. Você
foi, e após uma semana os sintomas começaram.
Tosse, febre, dores terríveis no corpo, dificuldade em respirar. Seus pais e seu irmão se recuperaram rápido, mas você foi levada a UTI. Os seus pais me mandavam fotos suas entubada. Como era difícil ver te naquela situação… meu coração doía muito, algo
inexplicável. Até que você deu seu último suspiro e virou uma estrelinha. Desde aquele dia meu mundo ficou sem sentido, e está sendo difícil de me recuperar, de assimilar. Eu nem mesmo pude me despedir, te velar, te enterrar. Sua mãe está em
pedaços e se sente culpada pela sua morte. Eu ainda estou a perdoando…, mas é difícil.
Infelizmente nos jornais, não podemos sentir realmente a dor de quem perde alguém para a Covid-19, esses viram apenas números, estáticas algo lamentável. Realmente não sei o propósito de tudo, porem sei que esse vírus destruiu e ainda
destrói famílias minha querida Alice… já estamos em 2021, porém ainda estamos na mesma… A vacina chegou, porém, não é tão eficaz assim e temos poucas doses. Aqui na Inglaterra as coisas estão encaminhando melhor que no Brasil, mas as coisas
vão demorar a voltar ao nosso bom e velho normal. Finalizo essa carta dizendo que gostaria que tudo isso fosse um pesadelo e em qualquer momento pudesse acordar e te abraçar como nunca abracei, fazer tudo aquilo que não fiz, e aproveitar todo o
tempo e momento com você. Sabe Alice, essa pandemia, esse caos em que o mundo está vivendo, pode sim nos mostrar e ensinar sobre algumas coisas. Nos mostra como somos tão frágeis, e como não podemos controlar as coisas ao nosso redor,
como o dinheiro nessas horas é inútil, e como nos prendemos e perdemos tempo com coisas fúteis e sem valor. E infelizmente só nos damos conta disso quando perdemos e ficamos com um vazio no fundo do peito. Agradeço por sua carta, ela me trouxe
esperança e conforto, pois sei agora, que você estava em paz quando saiu desse mundo. E a tecnologia pois, ela nos uniu enquanto você estava fazendo o seu trabalho aqui na terra.
Agora o crepúsculo da noite cai e vou colocar essa carta no nosso lugar preferido, a casa da árvore onde conseguimos ver as estrelas e assim nos conectamos. Eu te amo para todo o sempre minha estrelinha
Com amor: vovó:)
PS: tudo vai ficar bem!”
Na fase nacional do concurso, a aluna de Atibaia ficou em 16º lugar.
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